A Encantadora de Serpentes, de Henri Rousseau
O Simbolismo foi uma característica da pintura européia nas últimas décadas do Século 19 (em especial entre 1880 e 1890), bastante presente, apesar de não ter sido realmente organizado como um movimento.
Possui estreita ligação com o movimento poético simbolista.
Rejeitava as formas naturalistas e realistas e principalmente o
conceito, bastante comum na época, de que a arte só poderia ser
realizada através de imagens não abstratas que representassem com
fidelidade o mundo real.
O Simbolismo nas artes plásticas, tal como na poesia, apresentava forte
misticismo e referências ao oculto. Procurava diminuir o hiato entre o
mundo material e o espiritual. Os pintores deveriam expressar, através
de imagens, esses temas e essa visão de mundo, desenvolvidas pelos
poetas simbolistas em sua linguagem.
Para esse fim, utilizavam-se principalmente de cores e linhas,
entendidos como elementos extremamente expressivos que por si só
poderiam representar idéias. Confiavam mais na simples sugestão de algo
que na sua forma explícita. A inspiração temática simbolista costumava
vir de poesias do movimento, além de uma certa fixação em assuntos como a
morte, a doença, o erotismo e até a perversidade. Há inúmeros artistas
de estilos diferentes considerados simbolistas, por apresentarem traços
do movimento em suas obras.
O SIMBOLISMO data do final do século XIX e surge também na França,
primeiramente na PINTURA (com o nome de IMPRESSIONISMO) e depois na
Literatura, com "Flores do Mal" de Baudelaire (1870). Além de
Baudelaire, poetas franceses como Mallarmé, Verlaine, Paul Valéry, etc,
contagiam toda a Europa com seus poemas simbolistas. Em Portugal, o
Simbolismo data de 1890 com a publicação de "Oaristos" de Eugênio de
Castro. O Simbolismo surge no Brasil em 1893, com as obras
"Missal"("prosa") e "Broquéis"(poesia), ambas de autoria de Cruz e
Sousa.
A criatividade humana no contexto histórico contemporâneo do Simbolismo:
Com o Cientificismo ocorrido no século XIX, decorrente do reinado
materialista que toma conta da maneira de ser, de pensar e de agir do
homem ocidental, ocorre a chamada SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, ou seja,
a ciência da época é transformada em tecnologia que aprimora ainda mais
os meios de produção, pouco restando a fazer ao homem em termos de USO
DA CRIATIVIDADE. Vale lembrar que, antes do surgimento da máquina, o
homem produzia manualmente os produtos consumidos por toda a sociedade:
importava a qualidade ( a beleza, a utilidade, a durabilidade, etc) dos
produtos e, nesse aspecto, o artesão usava toda a sua sensibilidade, sua
técnica, sua CRIATIVIDADE no momento em que fazia seu trabalho, ou
seja, os produtos traziam em si as marcas da subjetividade daquele que
os elaborava. Com a Revolução Industrial, porém, a máquina substitui
quase que totalmente o trabalho humano: no reinado materialista a
qualidade não importa e sim a quantidade, pois quanto mais produtos mais
consumo, mais lucro, mais riqueza para os donos dos meios de produção. A
mão de obra e a criatividade humanas estão sendo cada vez menos
solicitadas e, portanto, pouco aprimoradas, no modo de produção da
época. O mesmo ocorre com a Arte e a Literatura produzidas nesse
contexto: pela objetividade, pelo detalhismo, por dar a FOTOGRAFIA dos
referentes, as obras artísticas e literárias não permitem que o receptor
use sua imaginação, sua criatividade (sua subjetividade) em nenhum
momento.
Em socorro à criatividade humana tão pouco requisitada na época, surge o
SIMBOLISMO na Arte e na Literatura, visando à produção de obras que
permitam um trabalho intelectual e emocional intensos por parte de seu
receptor; esse exercício intelectual e emotivo pretende aprimorar a
inteligência e a sensibilidade humanas . O relevo dado ao interior do
ser humano no Simbolismo é conseqüência dos postulados das teorias
freudianas.
SIMBOLISMO X REALISMO
Como já se pode perceber, o Simbolismo surge em reação à objetividade,
ao materialismo e ao detalhismo do Realismo. Embora seja tão obediente à
Versificação quanto o parnasiano, o simbolista caminha em direções
opostas às do realista: o simbolista é subjetivo, espiritualista e, ao
invés de descrever minuciosamente o referente, procura apenas SUGERI-LO
ao receptor através de uma LINGUAGEM SIMBÓLICA (CONOTATIVA), repleta de
elementos sensoriais (palavras que representam cores, sons, perfumes,
etc) que ao invés de esclarecer o que é o referente, indefine-o
(mascara-o). Para Mallarmé, "o gozo do poema é feito da felicidade de
adivinhar pouco a pouco. Sugerir o mundo, eis o ideal."
SIMBOLISMO E ROMANTISMO
As raízes do Simbolismo estão no Romantismo, por trazer de volta temas e
características importantes do Romantismo, porém com profundidade:
- a subjetividade: o romântico deseja atingir as emoções do receptor;
além das emoções , o simbolista quer mais da subjetividade do receptor:
pretende atingir sua criatividade, sua inteligência, enfim, sua "ALMA".
- o espiritualismo: o simbolista acredita na eternidade da alma;
- a descrição superficial do referente: na obra romântica, o referente é
caracterizado superficialmente através de uma linguagem conotativa e de
fácil decodificação; na obra simbolista, o referente é caracterizado
superficialmente através de uma linguagem conotativa, simbólica, que ao
invés de definir (esclarecer), indefine o referente para o receptor.
O SÍMBOLO
O símbolo para o simbolista é, por conseguinte, UM SIGNO CAPAZ DE
MASCARAR O REFERENTE QUE ELE REPRESENTA LINGUISTICAMENTE. Afinal, não
existe nada melhor do que uma linguagem simbólica (figurada) para
SUGERIR o referente, o mundo: só ela é capaz de despertar as mais
diversas sensações, as mais diversas leituras (interpretações) , dar
asas à imaginação do receptor.
CARACTERÍSTICAS GERAIS DA OBRA SIMBOLISTA
1. subjetividade/ 2. espiritualismo/ 3. temas mórbidos: a busca do vago,
do indefinido, a morte, a loucura, o sonho, o terrível, o real, o
irreal, etc./ 4. SUGERIR O REFERENTE ao invés de descrevê-lo
minuciosamente (sugerir é sinônimo de encobrir, mascarar)/ 5. Para
sugerir o referente, o simbolista utiliza-se de símbolos (FIGURAS) e de
uma linguagem plena de ELEMENTOS SENSORIAIS(predominância das
sinestesias) que provoquem no leitor sensações diversas. Tais símbolos é
que mascaram o verdadeiro referente, a verdadeira mensagem (conteúdo
manifesto/conteúdo latente)/ 6. Ambigüidade/ 7. Culto à brancura/ 8.
Musicalidade: as FIGURAS DE HARMONIA ( predomínio das aliterações), as
rimas, o ritmo, etc, dão intensa musicalidade à obra simbolista.
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